Postura dura do Legislativo sobre IR deve tranquilizar mercado na segunda, dizem analistas
O mercado financeiro deve abrir o pregão com um clima mais tranquilo nesta segunda-feira (2), após o Ibovespa registrar o pior desempenho em oito anos e o dólar bater em R$ 6.
Não que a tensão sobre o anúncio paralelo do pacote fiscal e da isenção do Imposto de Renda (IR) tenha saído do ar. O cenário fiscal ainda é a principal preocupação dos investidores no momento.
Porém, os posicionamentos de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados; e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), do Senado, vêm contribuindo para acalmar os ânimos entre os investidores, segundo analistas, economistas e CEO ouvidos pelo CNN Money.
Os líderes do Legislativo saíram em defesa da responsabilidade fiscal e da construção de um pacote de corte de gastos que assegure a sustentabilidade da dívida, e ainda ressaltaram que a discussão sobre renúncias fiscais deveria ser adiada.
“Acredito que o mercado vai abrir calmo, vai reduzir [o estresse], assim como foi a tarde de sexta, com redução da preocupação, e vai passar a semana mais tranquila. Mais por conta da postura de Lira e Pacheco, não por causa do relatório”, afirmou ao CNN Money Diego Hernandez, economista do Ativo Investimentos.
A forte reação do mercado diante do anúncio do pacote junto com a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil foi o estopim para a turbulência nos preços na semana passada.
Não foram suficientes para impedir que o dólar ultrapassasse a marca dos R$ 6, mas as falas dos dois foi bem recebida pelos investidores, ajudando a acalmar o estresse no mercado.
Essa calmaria, segundo Ricardo Natali, CEO da Aira Invest, deve prosseguir na abertura das negociações na segunda-feira, caso não ocorra nenhuma novidade que abale os ânimos.
“O que deixou o mercado mais tranquilo foi a fala de Lira e Pacheco, dizendo que estão empenhados com o pacote de corte de gastos, quanto com a parte do IR que será negociado sem tanta velocidade”, afirmou.
Ainda na tarde de sexta-feira (29), Haddad afirmou que as medidas não são um “grand finale” e que novos ajustes podem ser feitos, caso sejam necessários. A declaração foi feita no almoço da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), pouco depois da forte reação negativa do mercado diante do pacote fiscal.
“Agora, não vamos fazer tudo que precisa ser feito em uma bala de prata, e não é o grand finale do que a gente precisa fazer. Daqui três meses eu posso estar na planilha discutindo a evolução da previdência, do BPC. Pode ser que eu tenha que mandar leis para o Congresso”, afirmou Haddad.
Cenário
A maior preocupação dos analistas continua sobre as contas públicas em 2025 e 2026. Enquanto no curto prazo, segundo eles, os impactos das medidas econômicas já estão precificadas.
Na sexta-feira (29), o governo publicou um Relatório Extemporâneo sobre as despesas do 5º bimestre. No documento, a equipe econômica anunciou uma redução no bloqueio orçamentário deste ano, que passou de R$ 19,3 bilhões para R$ 17,6 bilhões.
“Se tivéssemos apenas um efeito do relatório, seria positivo, porque mostra que o governo procura fazer aquilo que está ao seu alcance para cumprir a meta fiscal desse ano, que prevê um déficit máximo de R$ 28,8 bilhões”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
“Então, ele tem feito contingenciamentos e bloqueios para tentar ficar dentro desse valor. Isso já era esperado. Só por isso o mercado não deve reagir”, conclui.
A turbulência nos preços dos ativos e no derretimento do principal índice da bolsa na semana passada refletiu a preocupação do mercado com o controle da dívida pública em proporção ao PIB – Produto Interno Bruto, que soma todos os bens e serviços produzidos.
Essa reação fez subir o temor fiscal e elevar o prêmio exigido para se investir no país, uma vez que as taxas do Tesouro IPCA + 2029 subiram para 7,17% ao ano, assim como as do Tesouro Prefixado de 2027, com taxa de 14,02% ao ano.
O que aumenta a dívida, segundo os especialistas ouvidos pela CNN, são as despesas obrigatórias, que entraram na mira do pacote para conter essa expansão.
Mas o que ainda se discute no mercado é que as medidas anunciadas por Haddad não dão conta de estabilizar a dívida pública bruta no longo prazo.
“Agora, não é só cumprir a meta, o principal ponto é conseguir reduzir a relação dívida/PIB. E para isso precisa fazer uns prazos de primário muito maior do que tem sido feito, portanto, provavelmente ano que vem o governo terá que adotar novas medidas”, reforça Agostini.