Investigação

Cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul são afastados em investigação sobre venda de sentenças

As investigações revelaram um esquema que envolvia magistrados, advogados, empresários e outros servidores públicos

Cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul são afastados em investigação sobre venda de sentenças
Operação em Campo Grande mira venda de sentenças no judiciário — Foto: Reprodução
Publicado em 24/10/2024 às 9:22

Polícia Federal deflagrou, nesta quinta-feira (24), a Operação “Ultima Ratio”, que investiga um esquema de venda de decisões judiciais, lavagem de dinheiro, extorsão e falsificação de documentos no Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul. Cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS) foram afastados de seus cargos por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Desembargadores afastados

Os magistrados afastados incluem o presidente do TJ-MS, Sérgio Fernandes Martins, além dos desembargadores Vladimir Abreu da SilvaSideni Soncini PimentelAlexandre Aguiar Bastos e Marco José de Brito Rodrigues. Além deles, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de MS (TCE-MS)Osmar Domingues Jeronymo, também foi afastado. O STJ determinou que todos utilizem tornozeleira eletrônica e não acessem dependências de órgãos públicos ou entrem em contato com outras pessoas investigadas.

Operação “Ultima Ratio”

A operação, que conta com o apoio da Receita Federal, é um desdobramento da Operação “Mineração de Ouro”, deflagrada em 2021, que já investigava corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo membros do TCE-MS. A nova fase da operação tem como objetivo aprofundar as apurações sobre a venda de sentenças judiciais e outros crimes relacionados, como extorsão, organização criminosa e falsificação de documentos.

Segundo a Polícia Federal, estão sendo cumpridos 44 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Brasília, São Paulo e Cuiabá. As ações de busca incluem a sede do TJ-MS e outros locais ligados aos investigados, como condomínios residenciais.

Investigações e alvos

As investigações revelaram um esquema que envolvia magistrados, advogados, empresários e outros servidores públicos. Entre os crimes apurados estão:

  • Venda de sentenças judiciais
  • Lavagem de dinheiro
  • Extorsão
  • Falsificação de documentos públicos
  • Organização criminosa

Além dos cinco desembargadores afastados, também são investigados um juiz de primeira instância, dois desembargadores aposentados e um procurador de Justiça. Os investigados são acusados de favorecer empresários e advogados em processos judiciais em troca de benefícios financeiros.

Detalhes da Operação

A Operação “Ultima Ratio” é resultado de três anos de investigação da Polícia Federal, baseada em documentos apreendidos na fase anterior, depoimentos de testemunhas e análise de movimentações financeiras suspeitas. O nome da operação faz referência a um princípio do Direito que considera a Justiça como o último recurso do Poder Público para conter a criminalidade.

O STJ decretou um prazo inicial de 180 dias de afastamento para os magistrados e outros envolvidos, além de proibir o acesso às dependências dos órgãos públicos e a comunicação com outros investigados.

Resposta do Tribunal de Justiça

Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul ainda não se manifestou oficialmente sobre o afastamento dos desembargadores. A assessoria do TJ-MS foi procurada, mas até o momento da publicação desta matéria, não havia retorno. A expectativa é que o tribunal emita um comunicado nas próximas horas sobre o impacto das investigações e as medidas administrativas a serem adotadas.

Contexto da “Operação Mineração de Ouro”

Deflagrada em junho de 2021, a “Operação Mineração de Ouro” investigava práticas de corrupção e lavagem de dinheiro no TCE-MS, com mandados expedidos pelo STJ devido à prerrogativa de foro dos investigados. O material apreendido naquela operação forneceu indícios para a Operação “Ultima Ratio”, que agora foca na venda de sentenças judiciais e no envolvimento de membros do Judiciário sul-mato-grossense.

Créditos: Jornal do Estado do MS